"Não há condições". Uma universidade com diferentes realidades
“O edifício não foi feito a pensar em nós”
Nas traseiras do Teatro Jordão - Garagem Avenida, esconde-se a escola de Artes Visuais da Universidade do Minho. As escadas que permitem o acesso são escuras. No final de cada lance, as poças de água revelam-se de forma desagradável. Um cheiro a bolor emana do beco que serve de pano de fundo. Finalmente, encontramos a porta principal. Não está a funcionar. A cruz vermelha que devia assinalar o destino apenas indica a direção da entrada “supostamente” provisória.
Contornamos a rua e vemos pela primeira vez o edifício. Alto, moderno e de tons escuros. As marcas de três décadas de arte foram pintadas. O novo ocupou o lugar do velho. A 12 de fevereiro de 2022, o Teatro Jordão reabriu ao público, após o projeto de requalificação que contabilizou um total de 12 milhões de euros. O espaço passou a ser o teto de novos ocupantes - os alunos de Artes Visuais.
"É horrível estar aqui"
Ana Versos, estudante da licenciatura, reclama da falta de condições. A estrutura para aquecer as instalações existe, mas não está em funcionamento. A internet nas salas também não é uma realidade. O projeto está concluído e “não vão estar a furar paredes para passar fios.” As aberturas que faltam contrastam com as aberturas que não deviam existir. “Há imensas fugas de água em todo o edifício. Se chove lá fora, chove cá dentro”.
Os alunos sobem e descem constantemente as escadas. Matilde Monteiro, estudante do segundo ano, desabafa que nem todas as salas têm torneiras. Lavar as mãos, algo que faz de “10 em 10 minutos”, torna-se numa tarefa difícil. A construção elétrica também não é compatível com os fornos utilizados. Simão Rouxinol olha para o relógio. Tem de apanhar o comboio, mas ainda há tempo para falar sobre os constrangimentos que sente. “Para o terceiro ano, [o forno] é bastante importante, porque estamos a fazer cerâmica”.
De dia trabalham, mas à noite têm que ir para casa. Os estudantes não podem permanecer no edifício após as 23:00, mesmo com trabalhos para finalizar. A solução encontrada pela universidade foi a disponibilização de uma sala no Campus de Azurém. Para Ana Versos, “é um absurdo”. “Como vou transportar as minhas peças com vários metros até lá para depois trazer novamente?".
Escadas que dão acesso à Escola de Artes Visuais
Escadas que dão acesso à Escola de Artes Visuais
Entrada da Escola de Artes Visuais
Entrada da Escola de Artes Visuais
Porta principal
Porta principal
Receção
Receção
Sala de aula
Sala de aula
Fios de Internet espalhados no chão de uma sala de aula
Fios de Internet espalhados no chão de uma sala de aula
Uma sala de Alunos para Alunos
É preciso subir dois lances de escadas para chegar à sala dos alunos. O espaço é pequeno e simples. O padrão dos sofás ressalta no meio do cinzento. Não condiz com os traços modernos do edifício. Ao lado, um armário rústico impõe-se sobre um tapete antigo. Os livros que o preenchem não são da universidade, mas sim dos professores.
Um balcão com louça, uma máquina de café, uma cafeteira e um router. Ana Versos revela que foi tudo fornecido pelos próprios estudantes. “As pessoas tinham essas coisas em casa e não se importaram de doar”. Há uma tabela de preços colada na parede, mas ninguém a controlar como geralmente acontece noutros espaços da universidade. Funciona tudo “à base da confiança”, afirma Ana enquanto mostra uma caixa de papelão cheia de moedas.
No canto, está um único microondas. Foi a solução encontrada pelos estudantes para colmatar a falta de uma cantina e de um bar. Chegaram a falar com a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), “mas não veio nada”. “Não vamos estar à espera durante meses por um microondas, preferimos colocar nós”, admite Matilde Monteiro.
Simão considera que é a maior falha. “Precisamos de um sítio para comer, da mesma forma como em Azurém conseguem uma refeição completa por 2,70 euros”. Segundo o estudante, os preparativos para uma possível cantina em Couros iam começar no início do ano letivo. “Já tiveram mais do que tempo para pensar no assunto. Se estiver alguma coisa a acontecer, entre nós, ninguém sabe de nada”.
“Tudo o que está bem aqui foi feito pelos estudantes”. É a conclusão a que chega Ana.
Router de Internet
Router de Internet
Bancada
Bancada
Microondas
Microondas
Tabela de preços
Tabela de preços
“As reclamações são justas”
A voz do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, sobrepõe-se à do barulho no Salão Medieval, no Largo do Paço. “Já tive a oportunidade de fazer uma visita e recebi uma espécie de lista com as condições dos estudantes. O objetivo foi perceber os motivos da sua insatisfação e delinear medidas de resposta e de correção”.
O que resultou? A necessidade de uma oferta alimentar transversal ao curso de Artes Visuais, Design de Produto e Teatro. Rui Vieira de Castro revela que está a ser pensada “a utilização do espaço existente no Teatro Jordão para a instalação de uma unidade dos Serviços de Ação Social”. “Há também a necessidade de organizar os espaços de natureza pedagógica e de resolver problemas com o equipamento das salas de trabalho”.
Um design que não foi feito à medida
A poucas centenas de metros do Teatro Jordão - Garagem Avenida, encontramos o Instituto de Design de Guimarães. Foram precisas duas tentativas para descobrir o local que ainda pertence ao Campus de Couros. É aqui que os estudantes de Design de Produto têm aulas. Apesar da aparência vanguardista, o edifício “não está apto para um espaço de universidade”. Na entrada, sentada numa mesa a conversar com os amigos, encontramos Teresa Ginoulhiac. Está no segundo ano da licenciatura e é delegada de turma. Confessa que os problemas vão para além da falta de uma cantina ou de um bar.
“Não temos qualquer tipo de isolamento sonoro. Estamos no centro da cidade, levamos com obras e gente a passar. Temos aulas por cima de um bar e muitas vezes põem música. Já deram festas enquanto estávamos a trabalhar em época de entregas”.
Teresa fala sobre um episódio que aconteceu no ano letivo passado. “Houve um concerto de rock aqui em baixo. A música estava tão alta que as janelas tremiam. Foi absolutamente impossível trabalhar nesse dia. Este espaço estava cheio de gente e era só barulho. Não é justo termos de encarar este tipo de problemas”. A voz da estudante mistura-se com o barulho das carrinhas da construção civil e com os passos rápidos que ecoam no andar de cima. O nosso próximo destino.
Dentro da escola, está frio e o chão sujo. Não é difícil entrar no espaço. De acordo com Catarina Gouveia, do segundo ano, “não há segurança quase nenhuma”. Conta que um dia “uma aluna estava a vir para aqui e dois rapazinhos vieram atrás dela. Também subiram as escadas”. Já estas são feitas de metal, o que provoca vários acidentes. “Um vez uma menina escorregou, pediu gelo ao segurança e ele disse-lhe para ir comprar ao supermercado. Nem deve haver kit de primeiros socorros ”, afirma indignada.
Escadas que permitem o acesso às salas de aula
Escadas que permitem o acesso às salas de aula
Aviso
Aviso
Cartaz afixado em frente a uma sala de aula
Cartaz afixado em frente a uma sala de aula
Chão de uma sala de aula
Chão de uma sala de aula
“Não há condições para ficarmos aqui”
Existem quatro salas para todos os estudantes da licenciatura, “cada uma delas com os seus problemas específicos”. Os quadros estão sujos com as mesmas palavras que foram escritas no início do ano letivo. Em vez de cadeiras fixas, há bancos “com rodinhas”. Teresa Ginoulhiac lamenta. “Não há qualquer tipo de estabilidade, principalmente quando temos aulas teóricas de quatro horas seguidas. Ficamos com a coluna feita num oito”.
Os materiais também são escassos. Segundo Catarina Gouveia, “há duas ou três máquinas para todo o curso”. Os materiais são “os próprios alunos a comprar e muitos trabalhos não são exequíveis no edifício". “Há alunos que são filhos de carpinteiros, mas a maioria não tem acesso aos equipamentos em casa”.
É necessário percorrer um corredor exterior para aceder aos laboratórios. Não há qualquer tipo de cobertura a proteger as pessoas da chuva e do vento. Abrimos a porta e o espaço que se segue é composto por uma sala com mesas, o escritório do técnico, a sala dos professores e três laboratórios com materiais e maquinaria. Também Teresa considera que a oferta é insuficiente. “A fila de espera é longuíssima e os laboratórios só estão abertos das 9h00 às 17h00. A partir do momento em que o técnico sai, não podemos trabalhar aqui”.
Os problemas estendem-se também a outros edifícios do Campus de Couros, como é o caso do Centro Avançado de Formação Pós-Graduada.
Teto danificado no Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Teto danificado no Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Baldes num corredor do Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Baldes num corredor do Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Teto com sinais visíveis de infiltrações de água no Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Teto com sinais visíveis de infiltrações de água no Centro Avançado de Formação Pós-Graduada
Uma universidade, 12 unidades de ensino
A Universidade do Minho é constituída por 12 unidades orgânicas distribuídas por quatro campi - Gualtar, Azurém, Couros e Congregados.
Os contratos públicos dos últimos cinco anos, realizados entre janeiro de 2018 e dezembro de 2022, comprovam que Medicina foi a escola que mais financiamento recebeu. A Escola de Arquitetura, Arte e Design, na qual se incluem os cursos de Artes Visuais e Design de Produto, foi das que menos obteve.
BASE (portal online dos contratos públicos) foi a plataforma utilizada para a recolha dos dados. Os valores apresentados não incluem IVA (Imposto Valor Acrescentado). Admite-se uma margem de erro, face à ausência dos documentos de alguns contratos efetuados.
"Não há discriminação negativa ou positiva das unidades. Tem a ver com a natureza da atividade que é desenvolvida"
Rui Vieira de Castro assegura que não existe qualquer favorecimento das escolas que recebem mais verbas. “Os contratos estão dependentes das atividades da própria universidade e das unidades orgânicas”. O reitor realça que o financiamento depende, muitas vezes, de entidades nacionais e europeias, existindo "regras particulares de execução" dos projetos.
Há departamentos que necessitam de um maior investimento. "É natural que assim seja. As unidades têm diferentes níveis de intensidade laboratorial, o que faz com que haja escolas com um volume muito maior do que outras”. O reitor estabelece uma "linha divisória" entre a Escola de Medicina, de Ciências e de Engenharia e as restantes. "Requerem níveis de contratação de bens e serviços maiores".
"A nossa preocupação é garantir condições tão boas quanto possíveis aos estudantes"
Apesar de existirem edifícios recentes, a universidade tem infraestruturas com várias décadas. "Necessitam regularmente de obras de conservação”, admite Rui Vieira de Castro. Por esta razão, o orçamento deste ano conta com “uma verba superior a 500 mil euros para intervenções de correção”.
Parte do montante do Plano de Recuperação e Resiliência direcionado para a UMinho vai ser investido na requalificação de espaços. É o caso dos “laboratórios pedagógicos da escola de ciências”, que estão “em más condições”. Também o Complexo Pedagógico 2 (CP2) e o CP3 do Campus de Gualtar vão ser alvos de intervenção “muito brevemente". Serão também utilizadas verbas próprias da universidade.
O Plano de Ação para o quadriénio 2021 - 2025, disponível na página da UMinho, foi proposto pelo reitor ao Conselho Geral. No documento, destaca-se a "agenda para a promoção da qualidade de vida e bem-estar das pessoas nos campi".
Um dos objetivos delineados é a qualificação dos "espaços exteriores dos campi e do parque edificado da universidade". Abrange iniciativas como a "construção do UMinho Clinical Digital Centre" e do "Centro Multimédia da universidade". Bem como a "criação de espaços de trabalho colaborativo destinados aos estudantes" e a "conservação e reabilitação dos edifícios".
Ainda nesta agenda, destaca-se o objetivo: "utilizar tecnologias para tornar os campi mais eficientes, seguros, sustentáveis e agradáveis para ensinar, investigar e estudar".
Após várias tentativas, não foi possível, até à data de publicação da reportagem, falar com o presidente da Escola de Arquitetura, Arte e Design, Paulo Cruz, sobre os problemas apontados pelos estudantes. Do mesmo modo, não foi possível questionar o presidente da Escola de Medicina, Jorge Correia Pinto, sobre o investimento que é feito na unidade orgânica.
Compram-se estetoscópios, não pincéis
Legenda complementar:
IICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde
Materiais - Componentes de laboratório e material de reprografia
Em Gualtar, na cidade de Braga, subimos por uma rua íngreme até à Escola de Medicina. A robustez do edifício contrasta com o verde que o rodeia do lado esquerdo. Por trás de duas portas de vidro pesadas, encontra-se uma receção ampla. Grupos de estudantes de bata branca estão dispersos no espaço.
Junto do bar encontramos Ana Cabanal e César Guimarães, estudantes do terceiro ano. Consideram que, no geral, as condições são adequadas. No entanto, “faltam cadeiras nos auditórios, que são pequenos para algumas turmas. Temos que ir buscar cadeiras ou até sentar nas escadas”.
Vê-se também duas máquinas de vending e três microondas. Laura Caeine, estudante do sexto ano, prepara o seu lanche. Queixa-se das infiltrações de água, que têm sido frequentes nos últimos tempos. “Como a escola é mais recente, não tinha estes problemas. Agora começa a ter, já se vê baldinhos”. As falhas ficam por aqui. De resto, “a escola tem boas condições”.
O espaço do bar prolonga-se até à divisão seguinte - a cantina. Como diz Laura, é uma “vantagem” para os estudantes de Medicina. “Não temos de estar sempre a ir lá baixo”. A aluna refere-se à cantina geral do Campus de Gualtar, localizada a poucas dezenas de metros.
A biblioteca tem dois pisos. As salas de estudo estão “sempre abertas”. Os laboratórios “são grandes e muito bem equipados”. Nas aulas, "não estamos em cima uns dos outros”. Cátia Freitas, aluna do quarto ano, acredita que se gastem “uns bons milhares de euros” em material de laboratório e reagentes. “Tive uma aula em que trabalhamos com equipamento de cento e tal euros por peça”.
“O investimento feito no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde é justificado”
César Guimarães conta que já participou num projeto do instituto. Garante que “não há excesso de dinheiro, há falta dele”. Tem a ver com “a vertente cara da investigação médica e científica, que as outras escolas não têm”.
“Merecemos mais do que o resto? Não sei”. O intervalo acabou. Cátia regressa à sala de aula.
Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde
Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde
Bloco localizado na entrada da escola
Bloco localizado na entrada da escola
Sala de apoio
Sala de apoio
Biblioteca da escola
Biblioteca da escola
O palco que Música e Teatro precisam,
mas não têm
Os cursos que constituem a Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas encontram-se divididos por três campi. Os estudantes de Teatro têm aulas no Campus de Couros e os de Música no Edifício dos Congregados. Os dois cursos de artes performativas também têm necessidades que vão para além de uma mesa e de uma cadeira.
"Se é preciso investir, que se invista"
No centro de Braga, um edifício do período barroco salta à vista e ao ouvido. Um emaranhado de instrumentos musicais ecoa na Avenida Central, sons que as paredes não conseguem conter. “As salas não estão preparadas acusticamente”. João (nome fictício), estudante de Música, fala sobre as dificuldades que sente. “Há poucas salas, estantes e materiais para músicos”. O edifício não tem “as condições que qualquer conservatório teria”.
Rui Vieira de Castro admite que o Edifício dos Congregados “tem características peculiares. Não é um espaço preparado nem desenhado para o ensino de música”. Considera que são necessárias “intervenções” para resolver um “problema sério” - “o ruído provocado para o exterior”.
Não existe um auditório para a orquestra. Por isso, vão ser criadas “condições de ensaio no pavilhão desportivo” que existe nas traseiras do edifício, para que “se possa trabalhar lá de forma definitiva”. O reitor afirma que "é um trabalho contínuo”. João garante que o pavilhão não está preparado para música de conjunto. “Ouvi dizer que vão arranjar aquilo. Mas é para agora ou para daqui a três anos? Já estou aqui há vários anos e pouco mudou".
"É preciso que caia o carmo e a trindade para que se faça alguma coisa”
Também não há uma biblioteca. “Sempre ouvi falar que existe uma, mas nunca a vi aberta”. “Se preciso de um livro ou material, tenho de ir a outro sítio”. João mostra-se revoltado com a situação. “Além disso, apenas temos uma sala do aluno com dois computadores e só um funciona. O curso é prático-teórico, também tenho de estudar teoria e fazer trabalhos”.
O horário do edifício é outro constrangimento. “Agora fecha às 22h00. Há cerca de três anos estava aberto até às 24h00. As outras universidades estão pelo menos até à meia-noite ou duas da manhã. Faz sentido prolongar o horário”. Também a cantina encerra mais cedo. João conta que recentemente foi avisado que vão deixar de servir jantares e que o bar vai fechar às 18h00. “Talvez seja a falta de pessoas [a jantar], mas não deixa de haver. Prejudica-me a mim e a muitos. É um transtorno enorme. Não faz sentido”.
Rui Vieira de Castro afirma que “não está prevista uma intervenção ao edifício”. Apenas “intervenções pontuais no sentido de assegurar progressivamente a melhoria das condições de trabalho”.
Baldes no Edifício dos Congregados
Foto fornecida por João (nome fictício)
Teto do Edifício dos Congregados
Foto fornecida por João (nome fictício)
Aviso de alteração do funcionamento do bar
Foto fornecida por João (nome fictício)
Baldes no Edifício dos Congregados
Foto fornecida por João (nome fictício)
"Ainda falta muita coisa"
Final de tarde de sexta-feira. A Escola de Teatro e Artes Performativas está praticamente vazia. Sentada numa cadeira de metal, Maria Verga, estudante do primeiro ano, lancha um pão de queijo. Recebe-nos com um sorriso e apresenta, sem pressa, as instalações.
“Não há cantina”. A queixa é transversal a todos os alunos com quem tivemos a oportunidade de falar no Campus de Couros. Apenas existe um bar. O balcão de vidro, vazio e intocado, deixa à vista um espaço equipado com torneiras e máquinas. Mas não se vê comida, nem um funcionário a trabalhar. A solução é utilizar os dois microondas encostados numa mesa. Passaram a quatro nesse dia. Foram trazidos pela AAUM. A falta de espaço também é um problema. Maria aponta para a meia dúzia de mesas dispersas no local. “Esperamos que os outros acabem de comer ou comemos em pé. Ou comemos no chão ou não comemos”.
As salas são também motivo da apreensão dos estudantes. “Aprendi que não se faz teatro com um espelho à frente”. No entanto, todas as salas têm um. “Precisamos de ter espaços de ensaio sem entrada de luz”. Em cada sala, existem janelas com uma estrutura para cortinados, mas estes nunca chegaram a ser colocados. Cartões e fita-cola são utilizados como remendos.
“Foi preciso bater o pé. Não devia ser assim”
"Todos estes problemas" levaram a um protesto por parte dos estudantes. Antes das férias de Natal, “combinamos não ir às aulas. Estávamos cá, mas a protestar. Os professores concordaram todos”. O objetivo inicial era continuar no segundo semestre, caso “não houvesse nenhuma mudança”. Entretanto, “vieram aqui pessoas falar com os professores e perceber o que se passava”. Aos alunos, o reitor prometeu que iriam ser encontradas soluções. O protesto foi terminado.
As escadas por onde subimos são as mesmas por onde descemos. Desta vez, acompanhadas por Maria. Por entre despedidas, a jovem apenas deseja que as coisas mudem. Para melhor.
Espaço designado a um bar
Espaço designado a um bar
Mesas da entrada da escola
Mesas da entrada da escola
Vidros da sala de ensaio tapados com cartão
Vidros da sala de ensaio tapados com cartão
Porta remendada com fita cola
Porta remendada com fita cola
Maria Verga a descer as escadas
Maria Verga a descer as escadas